PISANDO CHÃO 1
A teologia africana nos
remete a uma cultura monoteísta, com um único Deus chamado de Olodumarê, que
sob suas ordens os Orixás de maneira individualizada mantém contato com os
homens.
A cultura dos Orixás em
sua origem era completamente tribal, e com o advento da escravatura no Brasil e
em outros países, se fez necessário para questão de sobrevivência que se unissem,
e mesclando os rituais, também se criou uma grande variedade do mesmo 0rixá.
As manifestações das
entidades embora sejam as mesmas recebem nomenclaturas diferentes e claro são
tratadas de maneira peculiares.
Mas essa situação criada
para a preservação em nada se distancia da verdadeira energia dos Orixás e nem
eles dos subordinados, que são entidades em evolução para servirem de ligação
entre os encarnados.
Todos são iguais perante
Deus, e a cultura negra através do carnaval, a umbanda, capoeira, maculelê, musicalidade
como o samba estimula a união entre brancos e negros, todos irmanados sob o ala
de Oxalá.
Embora de grupos
diferentes, linguagem outra, os sacerdotes acabaram se unindo para a
preservação, e até hoje as diferenças existem, incluindo o dialeto, no entanto
é bom salientar que não serão leis que manterão a unidade, e a liberdade, é um
bem precioso demais para ser desperdiçado entre os que não merecem.
Os vencedores de hoje serão, os vencidos de amanhã.
Mas somos todos iguais na
prática do sacerdócio, embora estejamos em nações diferentes, ritual, cor, formas
de execução, costumes, estado geográfico, cultural, intelectual, financeiro...
trazemos por igual a marca no xacra, a energia na mão e a força do hálito.
A força das energias
manipuladas por um sacerdote é o motivo principal para que até hoje e vai perdurar, quando problemas
físicos, psíquicos, sociais começam a atormentar uma pessoa, é aconselhável a busca de
um especialista na área e paralelamente uma consulta oracular.
Muitos e muitos problemas
que aparentemente não apresentam solução a ótica do materialismo, mesmo nas
mãos de competentes e interessados profissionais podem ser provenientes em suas
raízes do fundo espiritual.
Podem ser resultados e vistos
como decorrência de falência de vibração de algum Orixá ligado a pessoa, não necessariamente
o principal.
O desequilíbrio de seu ori
se refere a um estado decorrente de uma poluição momentânea, temporal ou até
definitiva dependendo da gravidade e do tempo que esteja instalada.
Muitos são os motivos que
levam ao desequilíbrio, que pode ser ocasionada por distúrbio físico, emocional
espiritual como demandas, feitiços, contágios com eguns, etc., caracterizada
como doença, sendo esta entendida seja como de desordem física, mental, seja
como distúrbio dos caminhos na vida social.
Portanto, prescreve-se
para tal, rituais de purificação e reintegração para aquele que ameaçado o equilíbrio
individual ou coletivo possa se organizar no contexto.
Mas o candomblé, em seu caráter universal, tem muito mais que
representação ritualística.
A formação de um leigo em adepto, iniciante e filho de uma
casa de santo não visa apenas uma formação unicamente para aprimorar o
indivíduo, inclui sabedoria, crença, normas, leis e costumes para entrosa-lo
melhor na comunidade em que alem de fazer parte como cidadão, também partilhará
seus conhecimentos como obreiro em prol dos demais.
Isto está presente no pensamento da comunidade, de forma que
implícita e explícita, objetivando compreender a humanidade e a vida de modo
que integrado a família religiosa, familiar biológica e social integre também o
indivíduo ao Cosmo.
O culto aos orixás é conhecido como uma das mais antigas
religiões do mundo, na história da civilização do homem, e seu objetivo
principal é alcançar o entendimento com o todo, abrindo caminhos de paz,
harmonia e fé para a humanidade.
Embora não existam leis escritas que determinem como proceder
ritualisticamente, elas fazem parte do saber oral, passando de geração para
geração.
Adaptado harmoniosamente ao longo do trajeto.
O motivo pelo qual antigamente era passado apenas de forma
oral, não era por imposição dos Orixás e entidades subalternas, mas sim por
necessidade ou privação social.
Muitos dos adeptos e iniciados nos altos escalões da religião
eram analfabetos, havia controvérsia nos dialetos, guerras tribais, tabus
familiares, etc.
Hoje é bem diferente e a cada dia com surgimento de meios mais
versátil de comunicação a divulgação, estudo a respeito do culto ultrapassam
fronteiras, o que é muito bom para manter atualizada, viva e principalmente
mais sólida visando o fortalecimento para que por mais tempo possa estar
presente e influenciando a sociedade de maneira direta ou indiretamente.
No entanto, as raízes não foram deturpadas e nem serão, pois
suas leis, costumes e rituais mantiveram os grupos regrados e unidos fazendo
com que o legado fosse aceito de maneira incontestável no seio da comunidade
africanista exatamente por essas leis serem a mola mestra que desenvolve a
união de todos os elementos. Perpetuando-se assim ao longo de milênios.
Os Orixás com seus subordinados são divindades intermediárias
de comunicação tendo cada um a responsabilidade de guiar os espíritos para a
companhia daqueles de mesma linhagem.
Cada um deles tem o seu dia sagrado, alimentos, animais para
sacrifícios, plantas e folhas específicas à sua forma de comunicação e a sua
importância está relacionada com a sua especialidade no domínio, que pode e
atua sobre um determinado elemento da natureza, caracterizando assim o seu
poder espiritual e seu meio de atuação, manifestação.
Desta forma, a grandeza de um determinado Orixá não é tão
essencial, mas a inter-relação entre um e outro é que é realmente importante.
Todos os orixás tem importância igual no universo.
Foge-se então das religiões tradicionais em que colocam
determinados elementos com prioridade.
Destacam e atribuem a um efeitos bons e a outra negativos.
Temos um único Deus, comandando e organizando os Orixás que
são manifestações naturais e que por sua vez mantém o contato conosco através de
entidades desencarnadas evoluídas, mais coerentes com nossa energia.
No candomblé os orixás têm dualidade de sua energia principal
e de maneira dual sua manifestação.
Contidas nelas atribuições positivas e negativas de uma mesma
fonte emanadora, portanto mantendo assim o equilíbrio.
As sociedades africanas tem concepção clara sobre a existência
e fenômenos da natureza.
O primeiro relaciona-se com a existência no Aiyé, terra
habitada, e no Orun, espaço além.
O segundo refere-se aos fenômenos naturais.
Cada indivíduo possui seu espírito específico Orí.
Este encontra-se agrupado com outros de mesma linguagem ou
caráter, Égbé Órun- grupo ou membro de origem espiritual.
No que diz respeito aos fenômenos naturais, o que afeta a um
membro de um Égbé Órun afeta da mesma forma a um membro do Égbé Aiyé.
Ritualisticamente, acredita-se que todas as coisas da
natureza, tais como pedra, areia, madeira, água, plantas, etc... possuem
essências que podem, se extraídas e utilizadas corretamente fazer algo em
benefícios dos homens.
Rituais são promovidos e respondem à eficácia de nossas rezas
que abrem facilmente um canal de comunicação dos nossos desejos a Deus.
Mas estes rituais variam em forma e ordem.
É preciso saber o tipo certo e essa determinação advém de
Ifá-Olokun.
E, quando feito dentro das especificações corretas, os
resultados serão sempre satisfatórios.
Todos os ritos da prática religiosa são sistematizados. Desde
encantamentos, consultas de jogo de búzios são revestidos de bastante
objetividade.
A preocupação principal é o bem-estar da coletividade, cuja à
responsabilidade de cada membro varia de acordo com o seu nível de
conhecimento.
Nada será solicitado ou cobrado sem antes ter sido ensinado, experimentado
e o resultado aprovado.
O principal objetivo é saber fazer, necessariamente ter
contato com a negatividade.
Desta forma, o candomblé é uma variante religiosa forte. Cada
membro detém, no hálito, no olhar, no andar, nas mãos e no pensamento, um poder
genético espiritual.
Às vezes de caráter imperceptível.
Mas a verdade é que os adeptos não tem somente este poder,
como também podem atuar nas consequências deste mesmo poder.
Onde tudo pode ser feito ou desfeito no culto aos orixás e sua qualidade depende
muito da maneira que é feita a transmissão do conhecimento ao longo do tempo.
O método adotado no passado e o de hoje para
manter intacta a liturgia, leis, regras deixam a desejar na medida que muitos
interesses se formaram ao longo da estrada.
A qualidade, portanto, acaba sofrendo os
agulhaços de consequência social,política e religiosa predominante ao
longo dos séculos.
As religiões mais fortes ou mais ricas, seria
melhor colocar assim, e refiro-me rica em valores materiais, pois como
poderemos em pleno juízo medir a verdade alheia? Por em dúvida a religiosidade
dos nossos irmãos e o valor de outras crenças?
Não, não podemos e não vamos lançar
julgamento.
Valores são muito relativos, até por que
sabemos que os brancos também escravizavam brancos, matavam e subjulgavam, e, da
mesma raça, apenas por darem nomes diferentes aos seus deuses.
Sabemos que quem manipulou de primeira a
escravidão negra foram os próprios negros para enfraquecer as tribos rivais.
Não nos importa, nos interessa exclusivamente
manter a nossa religião o mais coesa possível.
Não sendo egoísta e cumprindo a regra de que
todos somos irmãos por Olodumarê.
Mas a maneira com que ela vai se manter
depende de como vai ser transmitida.
Na antiguidade o conhecimento só podia ser
passado de maneira oral, não por determinação dos orixás, mas por limite
cultural, como já escrevi acima, desta maneira somente alguns tinham o
conhecimento e detinham os preceitos mais fundamentais.
A cultura era limitada, ler e escrever não é
para muitos, portanto a cabala, que é muito semelhante a cabala hebraica, e os
símbolos se difundiram a modo de perpetuar os ensinamento, no entanto
dificultava quem não tinha interesse real ou não era apto.
O fator socioeconômico teve influência
predominante na violação dos segredos
básicos e elementais.
Quem podia pagava para <aprender>.
Quem ensinava só passava o que o dinheiro
pagava, e escondia o resto, muitas vezes levando para o túmulo.
A mistura de ritos, costumes, deturpações das
regras, linguagem e até mesmo no caráter de determinadas entidades foram
maculadas por tradições mais fortes e poderosas principalmente politicamente.
O meio social em que estavam presentes os
antigos Bábás foram corrompidos quando do auge da escravidão de corpos.
Nos navios negreiros misturaram-se as raízes
e para sobreviver melhor foi uni-las, mesmo que o preço de perder a essência
fosse pago a gotas de sangue.
O pior ainda estava por vir, quando alguns
com desculpas de estudos começaram a cavar fundo para manipular as raízes e
usando a desculpa do modernismo, adaptação, e tantas coisas mais alteraram o
curso do rio.
Observa-se também que pelo fato do
conhecimento só poder ser passado de maneira oral, e reafirmo que não foi por
determinação dos orixás, mas sim e principalmente por limite cultural,
principalmente pelos que trouxeram a religião para o Brasil, aconteceu um apelo
até por sobrevivência, e em pior da
hipótese não ser perdido de vez a liturgia, o legado dos antepassados, muitos
que detinham o conhecimento passaram a “vende-lo”.
Daí não houve o repasse do conhecimento por
quem tinha para quem merecia, mas sim de quem tinha em dose dupla, ou seja,
tinha o conhecimento e necessidades básicas materiais, escolhendo então quem pudesse
pagar.
Deveria ter sido no passado e deve ser no
presente, o repasse do conhecimento ao escolhido, por suas qualidades ou por
orientação dos Orixás quando determinado no jogo de Ifá.
Infelizmente é mais comum o conhecimento,
embora parcial, ser passado não pelo merecimento ou por ordem dos Orixás, mas
sim pelo poder financeiro.
O sacerdócio não pode ser negociado, ele esta
comprometido com o carma do indivíduo que usará seu livre arbítrio para
consuma-lo ou não.
O importante é deixar bem esclarecidos que o
dom, o destino, predestinação, não podem ser negociados com objetivo único de
tirar vantagens, ou por mero capricho da vaidade.
Vocação sacerdotal é coisa séria.
O fato de fazer o "Santo"
não habilita a pessoa a ser "pai" ou "mãe"-de-santo,
ou imediatamente ocupar um lugar de destaque na casa.
Sou a favor da evolução, pois é uma lei
natural, no entanto certos preceitos no tocante as religiões tem que ser preservados
correndo o risco de o mistério ser exposto e encontrar barreiras absurdas que
as fazem perder a engrenagem a que estão organizadas.
Com o passar do tempo não se admite mais que
o conhecimento seja apenas passado de maneira oral.
É importante o bate-papo para aprofundar e personalizar
o ensinamento, mas utilizar os meios existentes para a divulgação, orientação
significa muito mais que expor o conhecimento, na realidade tem seu valor
elevado para o conhecimento ser propagado, desmistificado, deixando apenas
ritos importantes e sacramentais a disposição daqueles que fazem por merecer ao
longo de uma jornada de 3 dekás.
Mas o critério tem que ser mantido:
SEGREDO PASSADO POR QUEM TEM, PARA QUEM O
MERECE RECEBER.
Ou jafusi Inanga.
E-mail:rakaama@vetorial.net <==>
Site: www.vetorialnet.com.br/~rakaama http://rakaama.blogspot.com/
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