Aceitável e Aconselhável

ACEITÁVEL e ACONSELHÁVEL

R300-K-P-R-M-

A chuva bate de mancinho na lona surrada da tenda central.

Pros piás a festa esta feita.

Chuva miúda sem vento, que 'deveras' não é normal, pois nessa região, sul do Rio Grande do Sul, na primavera em diante o vento norte sopra trazendo ar quente das regiões de cima ajudando a aquecer, em muitas vezes tão intenso que junto com a umidade faz com que a sensação térmica chegue a níveis insuportáveis.

Dizem que a 'curpa' é de um tal de 'ninho e ninha', sei lá mas se vejo... 'acolhero para uma sumanta de laço com rebenque de trançado de urtiga.'

Após os axés das 19 horas, já com a chuva totalmente estiada, servindo a umidade para refestelar os mosquitos, acendemos uma fogueira no meio do terreiro.

Fogueira mui buena, especialidade do Singapura, companheiro de caminhada, que carrega consigo as armas de Odé, e o coração de Iemanjá.

Braseiro acesso, chimarrão correndo de mão em mão em prosa solta em pequenos grupos, embora estejamos todos ao redor da fogueira.

A lua nova, companheira de 'entreveiros' e de axés de abre-caminhos, prosperidade e, logicamente para axés de mal de amor.

Não tem como chamar diferente essa dor que maltrata quase todo mundo pelo menos uma dúzia de vezes em uma única encarnação e desconheço alguém que tenha se desvencilhado dela sem ficar com um punhado de arranhão se quer.

Sentado em minha tora relembro o acontecido dessa madrugada...

Após arriar um ebó para os Erês, e colocado Eles a comer, fui me espraia na rede escuitando

https://www.youtube.com/watch?v=d9tZNwJ3Da8

Acabei adormecendo ...., não mais cantarolava

Jaya jaya shiva shambo

Jaya jaya shiva shambo

Jaya jaya shiva shambo

Jaya jaya shiva shambo

Máha Déva Shambo

Máha Déva Shambo

Máha Déva Shambo

Máha Déva Shambo

Shiva Shiva Shambo

Shiva Shiva Shambo

Shiva Shiva Shambo

Shiva Shiva Shambo

Máha Déva Shambo

Máha Déva Shambo

Máha Déva Shambo

Máha Déva Shambo

...mas outra música tomava conta de minha mente.

A música nítida, mesmo eu que não sendo bom de memorizar normalmente as músicas conseguia cantar com toda a facilidade...

...eu preciso de forças para caminhar, minhas pernas cansadas já não podem andar..... sei que a musica é  do Noite Ilustrada....

A roda estava formada e o véio Mario, dançava, os meus pais e mais gente, lembro também da vó Dorcila, que estaria ajudando os demais.

Muito intrigante, pois todos falecidos e pelo que me consta não se conheciam.

Nem os meus pais conheciam o Mario.

Eu via tudo de dentro de uma tenda que dava para uma área um tanto nublada .

Cinza talvez e no momento sem perceber, eu cantava para eles,como se fosse solicitado a cantar... musica da Beth Carvalho...

ai meu deus eu preciso encontrar meu amor, oôo para matar a saudade que esta me matando..., dançavam, eu vi a mãe e o pai juntos.

Percebi alguém que eu tinha certeza ser meu irmão.

Mas entrei em dúvida quando eu o toquei, pois o rosto era mais claro, fino e bem mais novo do que lembro.

Gerson se chegou para prosear, mas vendo a viajem que eu fazia entre um mate e outro “se fez”, sentou ao lado, "quietito no más."

Lá vem Serapião com seu violino, Andrino com sua gaita de botão e João com sua 'guampa de canha", contendo graspa, e dois tamborzão.

A juventude já fica alerta. Meninas de bochechas rosadas e os guris, bem...estamos de olho neles.

Continuo minhas lembranças... a rua era a Nicarágua ou Costa Rica, mas era ao lado de um muro sem reboco.

Eu olhava para frente e via muitos relâmpagos, mas o céu estava limpo de repente apresenta-se a loucura de uma geleira em forma de morro no meio da rua e vi novamente o "Mano" ao longe, cerca de 50 metros e a geleira derreteu de repente e foi um grande aguaceiro, não vi ninguém mais e eu fiquei me equilibrando em cima do muro.

A gritaria da gurizada estimula os mais velhos a por ordem no acampamento, e claro puxando a "brasa para seu assado".

Não bem assim, mas é mais ou menos desse jeito, resolveram fazer as crianças ao invés de gritar, cantar.

Guaraci se aprochega de mim e senta na tora ao lado, tristonho como criança que vê outro chupar pirulito, mas não pode pois esta com dor de dente...

Guara é crioulo dos bons, seu defeito é amar com muita, mas muita intensidade. Se apaixona facinho, facinho e é trocado com mais facilidade ainda.

Mas para piorar a situação se envolveu com uns amigos gadjos que estimularam ele a partir para a magia de são Cipriano para "colocar' as meninas na mão.

O resultado: é essa cara de "chicrete cuspido".

Apesar da primeira música como de costume tenha sido oferecida a minha pessoa pelo caminhante Rosa, "gritador" do dia, muito pouco aproveitei da melodia que se intitula "GURI" do saudoso César Passarinho, pois o Guaraci começou a se lamentar sobre o seu momento, pedindo uns "aconselhamentos"

O caminhante Guaraci a muito pouco tempo faz parte de minha casa mas sempre teve por mim e pelos meus, apreço e recebe de volta toda consideração que despojamos aos filhos de Olodê que caem na estrada buscando cumprir sua etapa.

Sabemos como complicado fica o raciocínio de um homem atormentado pelo amor não correspondido ou quando traído.

Pera aí, referi homem como força de expressão, pois mulher também sofre e muito por amor e por "chifre", mas não vamos fugir do timo.

Acontece que todo trabalho de reaproximação e união amorosa deve ser pautada no bom senso e no equilíbrio.

Somente quando existe sentimento no casal e a convivência é impossível, e inevitável a separação devida ao uso de magia por terceiros, ou quando o temperamento, energias não se cruzam, ou estão desequilibradas é que podemos e devemos interferir usando a magia.

Nesse caso o uso das energias das entidades serão montadas para que haja equilíbrio, disciplina.

Poderíamos reduzir tudo dizendo: sintonia.

Uma perfeita vibração.

A religião não tem meios de criar sentimento verdadeiros, puros e duradouros.

A religião consegue com certeza equilibrar energias, manipular outras para aceitação ou repulsão, mas com certeza em período determinado e não eternamente.

A sintonia eterna vem da convivência adequada, onde os parceiros buscam o bem comum, onde a entrega é sem interesse como por exemplo ali na frente, Rosângela e Roberto dançando, quero dizer tentando.

Ela baila muito bem, ele sapateia como burro em olaria.

Só faz barulho e levanta poeira do chão, sem ritmo, sem harmonia nos movimentos, mas observamos o que ela tenta fazer, ou seja, compensa a deficiência harmônica dele com movimentos que fazem ser um casal perfeito.

O fundamento é conseguir o equilíbrio com seu par na dança tanto como para manter um namoro, noivado ou um convívio sob o mesmo teto sendo casados ou não e que desejam ficar juntos, possam ser felizes.

Buscar através de enredos enfeitiçantes uma maneira de conquistar não é uma boa alternativa se não existe sentimento em ambos os lados.

Usar a magia para abrir caminhos para os dois e fechar para quem queira perturbar é aceitável e aconselhável.

Nunca, sob hipótese alguma realizar axé de aproximação, amarração amorosa para vingança ou motivos infantis e inconsequentes.

Aquele que prende alguém consigo, acaba ficando preso também e vai levar esse efeito pela eternidade.

Os trabalhos espirituais feitos com o intuito de amarração ou união são recomendados somente quando se tem a certeza de que é realmente a pessoa que ama e deseja de paixão e que quer ficar com ela pelo resto da vida, pois a pessoa a ser amarrada não terá olhos e nem coração para ninguém mais além de você, passando a te desejar o tempo todo e ter a certeza de que você é o que ela mais quer na vida.

Deixar o orgulho de lado, saber quando deve deixar um relacionamento, ou, quando deve lutar por ele, mas comece sempre por verificar suas atitudes, as atitudes do outro envolvido, para então determinar a necessidade da busca da religião dos orixás para resolver sua vida amorosa.

Dizer que Guaraci gostou da prosa, não posso dizer, mas da música e do kolobi, ahhhhh!!!

Singapura com sorriso deslavado me pede e não me faço de rogado, ele de caneta em punho e a caderneta de anotações a espera... um axé para Iemanjá... lá vai um ebó para atrair a sorte com a vibração de  Iemanjá.

Material:

-1 BALAIO DE PALHA.

- 1/2 KG DE CANJICA BRANCA .

-1/2 MELANCIA FÊMEA.

-FRUTAS DE 7 QUALIDADES.

-7 FITAS DE 70 CM, DE CORES VARIADAS,MENOS PRETA.

-4 ESPELHOS REDONDOS .

-1 PERFUME DE BOA QUALIDADE.

-1 GARRAFA DE SIDRA.

- 1 PENTE DE OSSO.

- 2 VELAS BRANCA .

-MEL DE ABELHA .

-8  VELAS BRANCAS.

PROCEDIMENTO :

Em seu peji ou em local reservado acenda uma vela e ofereça a exu Marabô.

Cozinhe a canjica.Reserve e espere esfriar.

Retire  a polpa interior da metade da melancia. 

Ponha a melancia dentro do balaio.Recheie com a canjica.

Passe simbolicamente os elementos em seu corpo pela ordem.

-7 qualidades de frutas .

-4 espelhos .

-1 garrafa de sidra.

- 1 pente .

Após passar simbolicamente pelo corpo vá arrumando dentro do cesto.

Amarre as fitas na volta do balaio.

Abra o espumante ,espraie  em jatos o líquido,derrame mel sobre o axé.

Despache   no mar, de maneira que o axé vá para o fundo.

Antes acenda na beira da praia 1 vela para Bará AGELU e 8 velas para IEMANJÁ.

Derrame o perfume sobre o local que largar a cesta quando ela for ao fundo.

A Jurema no embalo do vanerão e outros ritmos, foi cozinhando um ensopado de costeleta de carneiro, com a erva língua de vaca, e quando bem cozido e temperado foi misturado uma quantidade generosa de farinha de milho média, dando um ponto de angú.

Servido na gamela de barro, exalando o aroma picante da pimenta unha-de-moça. Acompanhado de um pão sovado com condimentos e torresmo, e lógico uma caneca artesanal feita de chifre de touro, com um bem encorpado vinho tinto bordô.

A música não para e o frenesi do vinho, do kolobi estimula a música flamenca, as raízes dos RONS floresce a cada sarau, nos pagos do Rio Grande de são Pedro, minha querência amada.

 Pai Jorge.(53)3230 0598 (53) 8134 7154 /8426 1526 / 9101 2827 / 9949 9946

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